Muitas vezes ouvimos o chavão de que o futebol é para as famílias. Porém, há cada vez menos pessoas a irem aos estádios. Isto é consequência de vários fatores, porém, neste texto, vou só abordar um deles: a violência.
Se é verdade que, quando certos adeptos da equipa A encontram certos adeptos da equipa B, há episódios violentos, também é verdade que isso acontece na esmagadora maioria das vezes fora do estádio e em zonas e horários em que nenhum terceiro possa estar envolvido.
Já o que aconteceu no Sporting - Casa Pia foi durante um jogo e envolveu terceiros, quartos, quintos e trigésimos. Nada justifica um corpo de intervenção policial entrar num estádio à bastonada a tudo o que mexe. Nada. Se houve indivíduos que cometeram um crime ao usarem pirotecnia, algo que foi criminalizado apenas recentemente e sem grande sentido lógico por trás da decisão, têm de ser identificados, detidos e aguardar julgamento.
Porém, a justiça neste país funciona da seguinte forma: quem tem o poder deve usá-lo, esquecendo-se da responsabilidade que esse exige. Este episódio foi do mais ilegal que existe e não foi devido às claques. Foi, sim, devido à repressão policial gratuita, ao bom estilo de um estado autoritário. Não houve identificação, detenção, nem espera pelo julgamento de ninguém. Apenas “limparam” tudo o que havia pela frente, quer fossem adultos, crianças, idosos, pessoas com limitações de locomoção, etc. Quem é pago para manter a ordem provocou o oposto.
No clássico Porto-Benfica, houve a utilização de pirotecnia. Porém, não houve este tipo de repressão. Porquê? Porque as forças de segurança cumpriram a lei e utilizaram o bom senso.
E fica a pergunta no ar: o que vai na cabeça de algum superior policial ao ordenar que se entre desta forma numa bancada? É apego ao poder? É algo pessoal contra o grupo envolvido? Ou é só estupidez?
Mas o mais triste nem foi este ato de vandalismo policial, mas sim o facto de aqueles adeptos, vítimas de uma cobardia atroz, estarem sozinhos e sem proteção. No momento das agressões, outros adeptos do mesmo clube presentes no estádio aplaudiram os desacatos, achando estarem no coliseu de Roma, a verem leões a combaterem contra escravos. Passado umas horas, o clube emite um comunicado vergonhoso onde não defende quem vai ao futebol, levantando o braço com o polegar virado para baixo. Quem se comporta como César não se pode surpreender quando aparecer um Brutus.
Pego num caso muito específico, mas é ilustrativo do futebol em que vivemos. Por que raio é que qualquer pai ou mãe levaria um filho ao estádio depois disto? Este mesmo jogo marcou também a primeira vez que uma senhora de 77 anos foi ao estádio. Acham que vai querer voltar? Eu não acho.
É triste que, num jogo do principal escalão português, o maior protagonista tenha sido uma força de segurança, que interveio sem motivo algum. E ainda mais triste é o facto de haver pessoas que promovem este tipo de violência através de aplausos ou inoperância.
João Blanco